sábado, 2 de agosto de 2008

Impactos ambientais: uma má gestão da arborização urbana inviabiliza o desenvolvimento sustentável de Fortaleza

Os gestores urbanos de Fortaleza parecem ignorar que toda tomada de decisão resulta em impactos ambientais para a cidade. Devido à baixa nebulosidade durante a maior parte do ano e a proximidade do Equador, Fortaleza apresenta insolação intensa. Apesar disso, as temperaturas são agradáveis sob a copa das árvores. Todo fortalezense reconhece o valor de uma boa sombra. Durante o processo de fotossíntese as árvores absorvem gás carbônico, liberam oxigênio e vapor d`água para a atmosfera. A transpiração das árvores contribui para uma redução da temperatura. É muito bem estudado o fenômeno das "ilhas de calor" que consiste na excessiva elevação da temperatura nos grandes centros urbanos em relação às áreas rurais adjacentes. Essas diferenças de temperatura podem atingir valores superiores a 10°C e contribuem para diminuir consideravelmente a qualidade de vida nos grandes centros urbanos, aumentando muito os custos energéticos com refrigeração. Dentre as causas das ilhas de calor destacam-se o excesso de superfícies que absorvem calor, como asfalto, concreto, áreas impermeabilizadas e as emissões de gases de efeito estufa por motores de veículos e fábricas. Uma das principais maneiras de contrabalançar as ilhas de calor é o incremento da arborização urbana. A vegetação urbana de Fortaleza é tão irrisória que pouco pode contribuir para a melhoria do ambiente térmico da cidade (Figura 1). Comparando-se Fortaleza com a cidade de Maringá (PR) uma das mais belas e mais bem arborizadas do país, verificamos quanto Fortaleza aproxima-se de um deserto (Figuras 2 e 3).
A tendência mundial consiste em adotar modelos de planejamento e gestão urbana que seguem premissas ecológicas. É cada vez mais comum o uso de edifícios bioclimáticos, que são projetados visando um aproveitamento máximo da energia. A vegetação urbana é uma variável cada vez mais importante nesse modelo de sustentabilidade. A cidade não é mais considerada como uma antítese da natureza e sim parte dela.
Em Fortaleza parece que estamos andando na contramão da história. Como a cidade não foi planejada levando em conta a arborização urbana, existem poucos espaços disponíveis para receber árvores, como por exemplo, as praças e canteiros centrais de avenidas.
A falta de planejamento, de integração e de conhecimento técnico dos gestores urbanos ocasiona conflitos entre arborização e outros equipamentos urbanos, como calçadas, tubulações de água e esgoto, redes elétricas e iluminação pública.
O problema ambiental mais grave de Fortaleza consiste tanto na falta de vegetação arbórea, quanto no manejo inadequado das poucas árvores que restam, que consiste em podas abusivas com motosserras que danificam as árvores. Tanto a falta de árvores como o excesso de podas prejudica o sequestro de carbono da atmosfera e contribui para o aquecimento global. A área fotossintética está sendo cada vez mais reduzida na cidade. De nada adianta plantar árvores sem planejamento, pois elas não terão longevidade suficiente para constituírem um eficiente reservatório de carbono. Com a decomposição dos galhos cortados, o carbono volta novamente para a atmosfera. Mais uma vez na contramão da história, podemos verificar que o descaso com a arborização de Fortaleza contribui para o aquecimento global.
A falta de arborização em Fortaleza também pode ser considerada um problema de saúde pública. A sombra das árvores protege as pessoas dos efeitos nocivos dos raios ultravioleta, evitando a incidência de câncer de pele. Quanto mais vertical estiver o sol, mais intensas serão as radiações.
Esses problemas não ocorrem apenas em Fortaleza. Na maioria das cidades brasileiras ocorre o mesmo. Como moro em Fortaleza, convivo diariamente com a degradação de seu ambiente. Fica então muito mais fácil apontar seus problemas, que infelizmente são semelhantes na maioria das cidades brasileiras. Embora a má gestão da arborização seja recorrente por quase todo o país deveriam ser estabelecidas diretrizes de planejamento urbano estaduais ou até mesmo federais, adaptando-as às condições locais. Os problemas devem ser apontados localmente, permitindo que os cidadãos possam cobrar atitudes dos políticos, evitando assim que se esquivem de sua responsabilidade.
Os problemas da arborização da cidade de Fortaleza não são responsabilidade apenas da administração atual mas vêm de longa data, provenientes da falta de planejamento e conhecimento técnico. São problemas que afetam a todos, independentemente de partido político. Só acho que a atual prefeitura não está aproveitando a oportunidade de inovar e romper com o passado, contribuindo para que a arborização de Fortaleza seja planejada conforme diretrizes ambientalmente sustentáveis. Não consigo conceber uma "Fortaleza Bela" com sua arborização tratada com tanto descaso!

Foto 1. Imagem de satélite de Fortaleza demonstrando a carência de áreas verdes. A cidade é semelhante a um deserto. Árvores com grande projeção de copa poderiam diminuir os efeitos da radiação solar e melhorar o conforto térmico nas grandes avenidas.

Foto 2. Imagem de satélite de Fortaleza (CE) na região da Avenida Bezerra de Menezes. O pouco espaço disponível para a vegetação arbórea de grande porte encontra-se nos canteiros centrais das avenidas. As calçadas são pequenas demais e só comportam árvores de pequeno porte as quais produzem poucos benefícios térmicos.
Foto 3. Imagem de satélite da cidade de Maringá (PR), um modelo de arborização e sustentabilidade que deveria ser adotado em todo o país. Este tipo de configuração espacial da arborização com grandes projeções de copa contribui para a melhoria do ambiente térmico, diminuindo o aquecimento das superfícies e portanto, minimizando o efeito das "ilhas de calor". Os gastos de energia com refrigeração da cidade acabem sendo muito reduzidos.

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