terça-feira, 29 de julho de 2008

Agradecimento à TV Diário

Gostaria de agradecer à TV Diário por ter apresentado minha entrevista sobre o acidente da queda da árvore sobre o táxi. A matéria foi veiculada no noticiário Diário na TV ontem as 21:30 hs.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Descaso na arborização urbana de Fortaleza: queda de árvore esmaga táxi na Parquelândia

Aqui temos um típico exemplo de como a arborização pública de Fortaleza é tratada com total descaso e falta de conhecimento técnico. Ontem, no horário do almoço, o táxi do Sr. Nelson foi esmagado pela queda de uma grande árvore na Rua Conselheiro Álvaro de Oliveira, quase na esquina da Avenida Bezerra de Menezes. Por sorte ninguém ficou ferido. O prejuízo ficou por conta do Sr. Nelson, que provavelmente terá que arcar com um longo processo judicial para ser ressarcido pelo poder público. Esse tipo de situação, totalmente evitável, decorre da própria falta de planejamento urbano. Em Fortaleza, como na maior parte do Brasil não existe uma gestão adequada da arborização urbana. Em geral são realizadas podas drásticas que comprometem a saúde das árvores tornando-as mais instáveis e perigosas. As árvores são plantadas sem se levar em conta o seu tamanho na fase adulta. Muitas árvores que atingem grande porte são plantadas muito próximas a calçadas, fundações de casas e pavimento. Ocorrem então duas situações possíveis: 1) As raízes ficam atrofiadas e não se desenvolvem, podendo desviar do obstáculo ou 2) abrem caminho pelo pavimento. Um sistema radicular forte é um fator crítico para manter a estabilidade da árvore contra ventos fortes. A limitação do espaço para as raízes é um grande problema para se criar um ambiente urbano ecologicamente sustentável. Quanto maior o espaço para enraizamento, mais estável a árvore será contra a força dos ventos e menor a sua probabilidade de queda. A estabilidade da árvore depende principalmente de raízes horizontais que chegam atingir distâncias muito maiores que o próprio diâmetro da copa. Um outro grande erro consiste no excesso de pavimento impermeável, que dificulta o suprimento de água, nutrientes e oxigênio para as raízes. Devemos nos lembrar sempre que a árvore é um ser vivo, que realiza fotossíntese, coletando gás carbônico e eliminando gás carbônico pelos estômatos. Necessita tanto de espaço subterrâneo como aéreo.

Figura 1. Danos causados pela queda de grande exemplar de figueira nativa (gênero Ficus) de cerca de doze metros de altura. Além do veículo, um poste telefônico também foi atingido.

Figura 2. A árvore de várias toneladas esmagou o táxi do Sr. Nelson

Figura 3. A árvore não apresenta raízes laterais superficiais que dariam sustentação mecânica contra a queda. Pode-se observar cicatrizes do corte das raízes, provavelmente cortadas durante a preparação do pavimento do estacionamento. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, quase todas as raízes encontram-se a cerca de 60 cm da superfície.

Figura 4. Pode-se observar claramente a desproporção entre parte aérea e sistema radicular. O muro também consiste em obstáculo para o desenvolvimento de uma raiz capaz de sustentar adequadamente o peso da árvore.

Conclusão: O acidente foi causado por total ignorância técnica sobre manejo de arborização, bem como pela falta de planejamento urbano. Com certeza nem a árvore e nem o vento têm culpa do ocorrido. As Ficus nativas podem ser utilizadas em arborização urbana, são árvores bonitas e atrativas para a fauna, além de proporcionar boa sombra. São conhecidas por apresentar um amplo sistema radicular horizontal que pode atingir mais de dez metros de comprimento. Isso implica em certas limitações de espaço para seu plantio, sendo mais adequadas para grandes praças e parques. Não se deve serrar raízes laterais que sustentam a árvore sob o pretexto de construir ou reparar pisos, como no caso desse estacionamento. A cicatrizes de corte de raízes na base do tronco indicam que esse procedimento incorreto foi utilizado. O correto é utilizar pisos permeáveis que permitem aeração e oxigenação da raiz. O muro pode também ter interferido como obstáculo para o crescimento das raízes. Podas drásticas para diminuir o peso da parte aérea não resolveriam o problema, pois a remoção de galhos de grande diâmetro contribuiria para debilitar mais ainda a árvore e criar bolsões de decomposição no tronco, que acabaria por ficar oco e desabar. Este caso deveria servir de alerta para que se invista mais em formação de especialistas em arborização urbana. Além de se plantar a árvore certa no lugar certo é necessário que se planeje o desenho urbano da cidade para receber mais árvores e utilizar técnicas corretas de manejo. Só assim poderemos nos valer dos inúmeros benefícios ambientais proporcionados pela arborização. Acidentes que podem levar a perdas materiais e até de vidas humanas podem ser totalmente evitados. Existe uma extensa literatura sobre planejamento e manejo da arborização urbana disponível em idioma inglês. As técnicas corretas já foram desenvolvidas em outros países, só precisam serem adaptadas e implantadas no Brasil.