segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Intervenção nas árvores aumenta riscos de queda

Podas de galhos e cortes de raízes, além de prejudicar a saúde das árvores, as tornam mais susceptíveis a quedas
Foto 1. Todo período chuvoso se multiplicam os chamados, nos Bombeiros, por queda de árvores (Foto: Neysla Rocha - 24/01/2008)


Foto 2. Em muitos casos, a queda de árvores tem gerado prejuízos financeiros (Foto: Estácio Júnior - 23/01/2008)

Além de alagamentos e inundações e deslizamentos, entre as ocorrências mais atendidas pelo Corpo de Bombeiros, no período chuvoso, estão as quedas de árvores. Será que há algo que possa ser feito para prevenir esse tipo de ocorrência? Na opinião do engenheiro agrônomo Antonio Tavares, professor da Universidade Federal de Parnaíba, sim. Mas depende, antes de tudo, de planejamento urbano.
Ele concorda com a necessidade de escolha de plantas nativas, adaptadas às características da região e os cuidados com onde serão plantadas, como a garantia de um espaço permeável maior que aqueles pequenos quadrados e o porte da planta adequado à largura da calçada / canteiro e à existência de tubulação e / ou fiação aérea na área.

Por outro lado, destaca a necessidade de um planejamento urbano mínimo, com calçadas e canteiros centrais mais largos; postes de iluminação baixos, como vêm sendo implantados no Estado do Paraná, em canteiros e praças, permitindo o livre crescimento de árvores, onde elas podem dar sombra, garantindo o conforto térmico tão necessário à nossa região semi-árida. “Caso contrário, teremos praças e canteiros iluminados à noite às custas do sol escaldante ao longo do dia”, afirma.

Na opinião do professor, se, por um lado, a população, em geral, subestima a necessidade de conhecimentos para intervir na arborização da cidade, plantando aleatoriamente sem se preocupar com o crescimento saudável das espécies; por outro, os gestores urbanos não planejam as cidades, projetando calçadas e canteiros estreitos, impermeabilizados, com fiação e tubulações (aéreas e subterrâneas) que não permitem a plantação de mais que arbustos, onde são necessárias (e possíveis) árvores.

“As pessoas parecem ignorar o fato de que as árvores crescem e que têm raiz, pois árvores mutiladas perdem tanto a função de sombrear, quanto a de liberar oxigênio, além de ficarem expostas a doenças”, destaca Tavares.

O professor sugere a necessidade de deixar canteiros centrais de avenidas e parte das calçadas (uma faixa próxima aos muros ou aos meios-fios) permeáveis com grama, permitindo que as raízes sejam devidamente irrigadas e que cresçam da forma desejada.

Agronomicamente falando, ele explica que a poda, em geral, deve ser feita na planta jovem, para conduzir o crescimento, pois eqüivale a uma cirurgia, que expõe a árvore a riscos: “o cupim jamais atravessa a casca de uma árvore. É por meio das partes abertas, com as podas, que doenças, fungos, bactérias e pragas, como cupins penetram na planta saudável. Mas os gestores das cidades, normalmente, pensam ao contrário: porque mudar a largura de calçadas, de canteiros centrais, fiações, tubulações, se posso mudar as árvores?”, questiona.

Ele destaca que — seguindo essa linha de pensamento — é raro encontrar uma árvore não mutilada em Fortaleza. “O pior é que o contribuinte paga para adoecer as árvores da cidade. Já pesquisei nos sites da Prefeitura e descobri que a Emlurb (Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização) realiza uma média de mil podas por mês, o que resulta em dez a 12 mil por ano. Com o custo de R$ 300,00 por árvore grande, teríamos pelo menos R$ 3 milhões ao ano”, avalia.

“Eu votei na prefeita, mas não é por isso que eu não vou condenar essa prática. A pesquisa acadêmica serve para avaliar, sugerir, propor soluções para a melhoria da qualidade de vida. Acho mesmo que deveriam haver diretrizes federais para que houvesse uma qualificação técnica no cuidado com esse setor”, afirma.

PODA ARRISCADA
Raízes garantem estabilidade

A arborização urbana é extremamente benéfica para os habitantes de uma cidade, por vários motivos, que incluem desde o conforto térmico até a amenização das poluições atmosférica e sonora. Esses destaques são feitos pela professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), Fernanda Rocha.

A arquiteta também destaca limitações infra-estruturais para a arborização urbana, sugerindo possibilidades de adequação para realidades já postas, como é o caso de Fortaleza, com calçadas estreitas e muita fiação aérea e tubulações.

Nesses casos, o planejamento pode partir da escolha das espécies, com dimensões que atentem para a interface com outros elementos presentes. “É preciso entender que cada árvore tem sua arquitetura própria antes de escolher. Castanholeiras e ficus adultos, por exemplo, podem ocupar calçadas inteiras, tanto na copa, quanto na raiz”, enfatiza.

Considerando o aspecto da interface, a professora destaca a importância de observação do sistema radicular. “A raiz, para a planta, é como a fundação, para a casa. Se houver interferência, com qualquer sobrecarga ela pode vir a tombar”, explica. Citando o ficus como exemplo, destaca que suas raízes são capazes de ir longe em busca de água, na tubulação e até mesmo em cisternas e caixas d’água.

O diretor do Departamento Técnico de Urbanismo da Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), José Wilmar da Silveira Neto, explica que o órgão atende a toda solicitação de serviço da população em via pública e que há muitos pedidos de poda e de corte, que só é realizado mediante laudo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam). Quanto ao plantio, explica que ultimamente tem sido feito planejamento, utilizando mudas nativas da região, cultivadas no Horto Municipal, escolhendo as de pequeno porte para espaços também pequenos, dando preferência a espécies frutíferas, ornamentais e medicinais. Destaca, ainda, que tem sido feita vistoria periódica nas árvores antigas, cobrindo aberturas com cimento e substituindo as que ofereçam risco.

Maristela Crispim
Repórter

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
As raízes do problema da arborização

MARCELO FREIRE MORO
bio_moro@yahoo.com.br
Biólogo, mestrando (Prodema/UFC)

Podar árvores não é algo fácil. Exige conhecimento, técnica e ferramentas adequadas. Além disso, exige avaliação criteriosa, para saber se uma dada árvore realmente precisa ser podada ou não. No geral, uma árvore fica mais saudável sem podas. Mas, por desconhecimento, as pessoas pensam que devem podá-las periodicamente. O que acabam fazendo é prejudicar a saúde e qualidade das árvores. Poda mesmo, seguindo as técnicas adequadas e se baseando em conhecimentos sólidos, parece que a arborização pública de Fortaleza ainda não viu.

É importante ressaltar que podar de modo errado pode enfraquecer a árvore e aumentar o risco de quedas, pois as plantas são vivas, e cortá-las de qualquer jeito acaba deteriorando a saúde do vegetal. E cortar as raízes das árvores, então, exige conhecimentos e cuidados redobrados, pois as raízes sustentam a planta e retirá-las pode fazer a árvore tombar.

Quanto despreparo a Prefeitura de Fortaleza tem demonstrado. Recentemente foram cortadas as raízes de centenas de árvores nas principais avenidas da cidade para executar obras de infra-estrutura. As avenidas Jovita Feitosa e Luciano Carneiro são apenas dois exemplos em que, por longos trechos, todas as árvores tiveram as raízes amputadas. Coloca-se asfalto sobre tudo depois e finge-se que nada aconteceu.

Claro que as obras de infra-estrutura devem ser feitas, mas, necessariamente, devem ser acompanhadas por um profissional qualificado para orientar quanto às intervenções nas raízes das árvores.

A Prefeitura é responsável pelos danos que a queda de árvores gera, mas não leva o assunto a sério. Se levasse, teria equipes capacitadas para lidar com o tema e avaliar tecnicamente. Muitas árvores que caem em Fortaleza não são obras do acaso. As plantas já estão previamente danificadas, seja devido a troncos apodrecidos por podas erradas do passado, seja pelo corte das raízes, colocando a população em risco. Uma bomba relógio foi acionada em Fortaleza, pela própria Prefeitura. Esperemos que ela não venha a explodir.

Fonte: Diário do Nordeste, Fortaleza-CE, 11/02/2009, Caderno de Negócios, Gestão Ambiental

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=614080